Meio Ambiente |
17/01/2005 -
07:59 |
Jornal
do Commercio - RJO lixo que preserva a
naturezaTecnologia garante o
aproveitamento da casca em artefatos distribuídos no País e no
ExteriorElizabeth Oliveira
Poucas pessoas se dão conta de que, ao beber um
copo de água de coco verde de 250 ml está gerando mais de 1
quilo de resíduo. No Verão, quando aumenta o consumo, as
cascas do fruto podem representar 80% do lixo coletado nas
grandes cidades. No Rio, embora a Comlurb não tenha dados
precisos, as estimativas indicam que são consumidos, em média,
450 mil cocos diariamente, o que resulta em em 630 toneladas
de cascas que vão parar no Aterro Sanitário de Gramacho, cujo
tempo de vida útil está quase esgotado, mas seu aproveitamento
pode servir à preservação da natureza, com a substituição do
xaxim.
Em Fortaleza os resíduos das praias somam 40
toneladas por dia. Nas duas capitais à beira-mar foram
desenvolvidos projetos e tecnologias inovadoras que garantem o
reaproveitamento da fibra solucionando esse problema que já é
considerado um desafio ambiental nas áreas
litorâneas.
O Projeto Coco Verde RJ, que ainda é
considerado um laboratório pelo gerente de Projetos e
Negócios, Philippe Mayer, desenvolveu uma tecnologia que
garante o aproveitamento da fibra da casca de coco verde,
gerando 60 empregos para pessoas cuja mão-de-obra não tem
qualificação. Os empregados recebem treinamento no local para
fabricar vasos, painéis e outros artefatos que abastecem o
mercado interno e são exportados para a Argentina, Coréia do
Sul, Espanha e Portugal.
Mayer não divulga os dados
referente à produção, mas garante que poderia estar gerando
muito mais produtos e empregos e contribuindo para evitar o
acúmulo de resíduos no aterro sanitário, se tivesse acesso a
esse tipo de matéria-prima produzida no Rio. Ele contou que,
como isso ainda não ocorre, vai buscar a fibra no Nordeste, o
que encarece os custos e inviabiliza a contratação de mais
pessoal.
- Nosso projeto está se firmando no mercado e
eu tenho esperanças de que futuramente surgirá algum tipo de
parceria que permita o aproveitamento da matéria-prima local -
reforça Mayer. Ele acrescentou que se dispõe a fazer
transferência de tecnologia para cooperativas de reciclagem
interessadas em produzir a fibra que dá origem a diversos
artefatos.
Além de vasos, painéis e outros itens usados
pelos segmentos de decoração, jardinagem e floricultura, a
empresa do Rio está entrando também no mercado de construção,
com a fabricação de placas acústicas em fibra de coco verde.
Segundo Mayer existe um grande potencial de crescimento para
esse tipo de produto, já que principalmente no exterior os
modelos fabricados em lã de rocha ou de vidro, em plástico e
outros derivados do petróleo estão sendo rejeitados. Os
compradores, acrescenta, estão de olho em matérias-primas
sustentáveis.
Segundo a Comlurb os grandes geradores,
com produção de mais de 120 litros diários de resíduos -
equivalentes a um conteiner plástico de 240 litros a cada dois
dias - são obrigados por lei a coletá-los e dar-lhes
destinação adequada. Esses serviços são prestados por empresas
privadas e, segundo dados do Projeto Coco Verde RJ, no caso
das cascas de coco os custos por tonelada giram em torno de R$
135.
Em Fortaleza, a preocupação com a solução
ambiental para as cascas de coco verde, aliada ao
desenvolvimento socioeconômico de comunidades carentes, levou
a Embrapa a criar um processo tecnológico para a produção de
fibra e pó do resíduo. Em uma usina que está em fase final de
construção, com entrada em operação prevista para março
próximo, serão produzidos mensalmente com as cascas
beneficiadas 10.500 vasos, 46 metros cúbicos de composto
orgânico, além de 440 metros cúbicos de substrato agrícola e
2.500 artefatos artesanais.
A engenheira química e
pesquisadora da Embrapa de Fortaleza Morsyleide Freitas
informou que o projeto é resultado de seis anos de estudos. O
desenvolvimento dessa iniciativa vai gerar 150 empregos na
coleta seletiva das cascas de coco nas praias e outros 20 na
operação da usina.
- Nosso objetivo é que esse modelo
de desenvolvimento sustentável seja incorporado por outras
cidades brasileiras que queiram resolver os problemas causados
pelo acúmulo desse tipo de resíduo e ao mesmo tempo gerar
melhoria da qualidade de vida nas comunidades carentes do
litoral - explica a pesquisadora.
Morsyleide afirmou
que o projeto desenvolvido pela Embrapa de Fortaleza recebeu
do Banco Mundial US$ 254 mil para a construção da usina e
aquisição de veículos e equipamentos. A Prefeitura de
Fortaleza doou o terreno e a expectativa dos especialistas
envolvidos é de criar no entorno do empreendimento uma horta
comunitária onde será aplicado o composto orgânico do coco
verde.
Além do Banco Mundial e da Embrapa de Fortaleza
integram a parceria a Associação dos Barraqueiros da
Beira-Mar, Sebrae-CE, as Secretarias de Trabalho e
Empreendedorismo e de Meio Ambiente, a Prefeitura de Fortaleza
e a Faculdade Christus,
O projeto, segundo a
pesquisadora, foi inscrito em 2003 quando o Banco Mundial
publicou edital para financiamento de projetos de países em
desenvolvimento que tivessem foco na biodiversidade e melhoria
da qualidade de vida das comunidades carentes.
Atendendo a esse edital foram inscritos 2.726 projetos
de várias partes do mundo, dos quais 47 foram selecionados.
Três deles são do Brasil, incluindo a proposta de
Fortaleza.
- Também enfatizamos nesse projeto a
possibilidade de criar alternativas para que 12.600 plantas de
samambaiaçu sejam conservadas por ano - explica a
pesquisadora. Essa espécie, nativa da Mata Atlântica e da qual
é fabricado o xaxim, está em extinção devido à exploração
predatória no Brasil. O Projeto Coco Verde RJ, segundo
Philippe Mayer, realiza também um trabalho de conscientização
para evitar a retirada dessa planta dos ambientes naturais,
produzindo artefatos para cultivo de orquídeas e outras
plantas que substituem o xaxim.