Coco Verde - O Fruto Marginal | Parte II
“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” (Voltaire)
Usaremos um exemplo de quanto o “coco verde” pode ser um fruto marginal. Escolhemos um cartão postal da cidade do Rio de Janeiro e acreditamos que o resto é bem pior. Não apenas no Rio de Janeiro , mas provavelmente em todo o país.
Deixamos claro que neste exemplo não estamos denunciando, mas usando-o para demonstrar o que acontece em todo o País e não apenas na Lagoa.
Cedo, de manhã o caminhão que já foi utilizado no dia anterior como plataforma de venda ou depósito ainda está enlonado, pois passou a noite numa área VIP e sem custos.
No verão de 2011 o valor do coco verde ficou entre R$ 1,30 a R$ 2,00 no atacado.
Como uma carga avaliada de R$ 8.000,00 a R$ 14.000,00, usufrui dos estacionamentos no entorno da Lagoa como ponto comercial e depósito sem custo algum?
Logo vem a pergunta: Que tipo de nota fiscal foi tirada para ele estar ali? Qual seria o destino real desta nota fiscal?
Já tivemos no passado péssimas experiências ao descobrir que vendedores sem empresas se utilizavam de nossa Razão Social para fornecer aos produtores e estes emitiam a nota fiscal contra nossa empresa.
Outra pergunta seria: Que tipo de nota fiscal eles estão fornecendo aos quiosqueiros ou ponto de vendas?
Apesar de ser isento de ICMS existem outros impostos que incidem sobre produtos e serviços.
Parece que as vendas ou distribuição vão começar. Logo no início da manhã.
É impressionante, pois se utilizam de uma faixa da pista para se posicionar e poder abastecer caminhões menores que farão a distribuição nos pontos de venda e não apenas na Lagoa, mas também em locais próximos. Temos que dar 10 para a logística deste pessoal.
Para vendas próximas o velho carrinho de supermercado, utilizando como plataforma de venda a calçada, o gramado, uma pista da via e o que lhes der na telha. Coco é fruta - - alimento e não pode ser jogado no chão desta forma. Teria de ser embalado para que seu manuseio fosse considerado aceitável.
Não, não são coitados, pois são muito bem articulados e se mantêm conectados por NEXTEL e acompanham toda operação nos mínimos detalhes. Totalmente a vontade estacionam numa pista e também sobre a calçada. Esta é uma atividade que deve dar muito lucro, pois quem trabalha com empresa estabelecida e segue as regras sabe quanto tudo isto custaria.
Estes são seus consumidores: frequentadores da Lagoa Rodrigo de Freitas. Bairro de classes média-alta e alta e possui um dos maiores IDH do país.
Um dos clientes, com quantidade razoável, servindo esta população de classes média-alta e alta e possui um dos maiores IDH do país e que não faz idéia da marginalidade que os cerca em relação ao consumo da água de coco.
Em outro ponto da Lagoa mais um caminhão usufruindo do bem público como se fosse privado.
E os funcionários destas empresas, que são bem articuladas, são fichados (possuem carteira de trabalho assinada) e usufruem da CLT? recebem EPI como protetor solar já que todos estão sem camisa ou uniforme? Por se tratar de alimento não deveriam seguir regras da vigilância sanitária?
Um caminhão de coco verde normalmente é carregado com 7.000 cocos o que vai gerar 10.000kg de lixo que será recolhido pela prefeitura.
Na venda de um caminhão de coco, levando em consideração a média de um ano todo, gera um lucro (médio anual) de aproximadamente R$ 1.400,00, já a prefeitura gastará próximo de R$ 3.000,00 para recolher/transportar e vazar este lixo. Me parece um negócio bem subsidiado. Nestas condições dá para voltar a vender coco.
No mesmo ponto outro caminhão de menor porte já carregado e pronto para iniciar a distribuição.
Coco verde: mocinho ou vilão?
Se formos enumerar todos os problemas, podemos chegar a uma conclusão absurda que o melhor é PROIBIR OU COIBIR o consumo do coco verde. Não podemos esquecer os produtores desta fruta que é produzida principalmente nos estados do Nordeste, onde afetando a produção geraria um numero significativo de desempregos impactando a economia das regiões, e mais, geraria desequilíbrio no setor de transportes de mercadorias, pois, muitos caminhões que vão com mercadorias diversas para estas regiões do Nordeste não teriam o chamado “frete de retorno” que é na grande maioria de coco verde, um dos produtos que o nordeste mais manda para outras regiões como o sudeste e sul.
O impacto do coco verde, gerado nas grandes cidades onde ele é consumido sob forma de água direto do fruto. A exemplo do que aconteceu no Rio de Janeiro que na tentativa de proibição do consumo, houve reação em cadeia de toda sociedade com relação a essa proibição. Por se tratar de uma tradição e também uma questão cultural. Não vai sair do mercado. Termos um impasse: de um lado um fruto, que a cada copo de água ele, gera um quilo de lixo, do outro lado temos uma sociedade que não abre mão desse consumo.Compreensível, pois é realmente a melhor forma de se consumir este “liquido da vida”.
Problema cultural - No Rio de Janeiro, a Secretaria do Meio Ambiente já tentou proibir a venda do coco verde nas areias das praias, mas o atual prefeito Eduardo Paes não concordou por se tratar de uma tradição carioca.
O que deveria mudar drasticamente é a forma comercial, ou seja, mudar todo o ciclo comercial do coco que hoje é vendido a qualquer pessoa e qualquer pessoa revende e distribui sem normatização, regulamentação ou fiscalização, gerando concorrência desleal com comerciantes estabelecidos que tenha seus custos e que são fiscalizados, não havendo atuação da área fazendária
Enquanto não houver normatização, regulamentação e fiscalização com a devida aplicação da lei, haverá inibição da atividade legal e licita de se firmar e de viabilizar projetos de mais de 100 empresas só para reciclagem da casca do coco verde em todo país.
Diante disso, a única solução é reciclar, fazer com que os empresários, comerciantes e distribuidores e varejistas encaminhem todo esse resíduo para reciclagem, mas isto ainda não seria a solução final, pois se não se criar uma demanda para os produtos gerados pela reciclagem como a comercialização de fibra e de substrato (insumo para substituir a terra).
A reciclagem do coco verde em área urbana, se não tiver auxilio ou subsidio do gerador é totalmente inviável, ela não é sustentável.
A planta de reciclagem deve ser vista como uma área de vazamento de lixo, e deve cobrar para receber este resíduo.
O gerador seja ele um empresário, ambulante ou comerciante, deve ter consciência que participara de um processo cíclico e sustentável, organizado em várias etapas. Cada uma delas movimentaria um ou mais setores da economia com repercussões sociais, ambientais e comerciais.